quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O testamento do Padre Manoel de Souza



A indicação, à margem do assento de óbito do padre Manuel de Sousa, (VER AQUI) de que este tinha feito testamento no livro de Notas do Tabelião de Porto de Mós, despertou, obviamente, a curiosidade de saber que tipo de bens acumulava um padre da nossa região, no 1º quartel do Séc. XIX.
Houve, pois, que indagar junto do Arquivo Distrital de Leiria sobre o dito testamento que foi encontrado e abaixo transcrevemos.
Como era próprio da época, o dito padre aparece, nuns lados, identificado como Padre Manoel de Sousa, ou Manoel de Sousa Coelho e, noutros lados, como Manoel Coelho.
Quanto ao testamento, o melhor é lê-lo (quem não está habituado a documentos mais antigos terá, de início, algumas dificuldades, mas, à segunda leitura, essas dificuldades já desapareceram) e, sobre ele, apenas diremos que não é claro quantos irmãos (aliás, talvez, todas irmãs) tinha o Padre mas, se atendermos às separações que faz dos (treze, contei eu) sobrinhos, parecem, essas irmãs, terem sido quatro.
Os documentos que conhecemos (o assento de óbito e o testamento) não nos elucidam sobre a idade, nem sobre os progenitores do padre e, nem sabemos que cargos terá desempenhado, que paróquias terá pastoreado mas, uma vez que uma sua sobrinha casou com o capitão José Luís de Sousa, das Pedreiras, vemos aqui um vislumbre das relações do padre com as famílias importantes da região.
Interessante, para nós, é o facto do padre ter designado como seu testamenteiro e herdeiro universal a seu sobrinho Manoel Machado, da Ataíja de Cima.



Testamento que faz aberto nas Nottas o Rdº. Pe. Manoel Coelho dos casais de Stª. Theresa trº. daV.ª  dePorto deMós

Feito em 22 de 9bro. de 1825 e Dado a D. em o mmo diaa fls 134Vº

Saibão quantos este instrumento de Testamento de ultima e derradeira vontade ou como em Direito milhor lugar haja e mais valor possa ter em que sendo no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil outto centos vinte sinco anos aos vinte e dois dias domes de Novembro do ditto anno neste lugar dos casais de Santa Theresa termo da Villa de Porto deMos casas de morada do Padre Manoel Bento digo Manoel Coelho onde eu Tabelliaõ aodiante nomeado e assignado vim e sendo ahi presente o ditto Padre Manoel Coelho pessoa conhecida de mim Tabelliaõ e das testemunhas aodiante declaradas e assignadas que dou fe ser o próprio edas mesmas testemunhas; por elle dito Padre Manoel Coelho que estava doente decama mas em seu prefeito juízo eentendimento segundo o parecer de mim Tabeliaõ edas mesmas testemunhas pellas acertadas respostas que deu as perguntas que lhe fizeraõ, me foi ditto na presença das mesmas testemunhas que queria que eu Tabeliaõ lhe tomasse e escrevesse nas minhas nottas o seu Testamento de ultima e derradeira vontadeque estava determinado a fazer de sua livre e expontanea vontadepella maneira e forma seguinte: Determinou que se lhe fizesse o seu funeral conforme ouso e custume destes sítios segundo o Estado Eclesiastico = que selle mandassem dizer pella Sua Alma duzentas missas de esmola de cento evinte reis cada huma, conforme a sua tenção e ditas de huma só vez; e pelas Almas de seus Pays cem missas da mesma esmola epor huma só vez = que deixava a sua creada Clemensia pelas soldadas que lhe deve aterra da Eira neste lugar com as arvores e suas pertenças, que parte do norte com caminho edosul com Francisco André = que pelos bons serviços que a mesma Sua Criada Clemensia lhe tem feito e espera lhe continue atté a sua morte lhe deixa em sua vida huma terra e vinha no sitio da  lameira (?) em a qual  terra e vinha ella ditta criada terá somente o uso efrutto, e por sua morte passara para Maria filha do Cappitaõ Jose Luis de Souza das pedreiras afilhada delle testador ou aos herdeiros della, sendo a esse tempo falecida, e que neste legado se inclue com o mesmo uso efruto as basilhas de levar vinho que elle testador possuir a sua morte; onorada esta propriedade legada á divida de quarenta mil reis que elle testador deve a sua irmã Luisa Coelha do Pé da Serra Avó da ditta sua afilhada Maria = Dice que deixava á ditta Sua Criada Clemensia para ella dispor a seu arbítrio metade detodos os bens moveis que houver asua morte, ehuma maraã, entendendo-se nos moveis taõ bem os frutos que entaõ ouver = Dice deixava a sua sobrinha Francisca dois mil equatro centos reis; a sua sobrinha Joaquina mil eduzentos rei s=;  a sua sobrinha Maria mil eduzentos reis;  a sua sobrinha Rosa mil eduzentos reis; e a seu sobrinho Joaõ mil eduzentos reis; e a seu sobrinho Luis o Rellogio eaEspingarda; e a João, Maria, Bernardo, Joaquim, eSebastiana, filhos de Sua Irmã Maria mil eduzentos reis a cada hum, tudo em dinheiro e por huma só vez: E no Remanescente detodos os mais Seus bens moveis Sobmoventes ede Rais, direitos, eacçoens Institue por Seu Universal herdeiro etestamenteiro a Seu sobrinho Manoel Machado da Ataija de Sima com a obrigação de pagar Suas dividas, funeral, Legados pios e profanos dentro dedois anos; menos o que fica Legado a Sua Criada Clemensia porque esta entrará na posse dos Legados que lhe ficão declarados Logo que aconteça a morte de elle testador; e que o ditto Seu herdeiro pagará o juro de setenta mil reis que elle testador deve emais algumas dividas que se legalizarem, everdadeiras forem: epor esta maneira dice elle testador havia feito Seu testamento de ultima e derradeira vontade, e que queria que Se cumprisse como nelle Se conttem edeclara; assim o outhorgou por bem Escripto emverdade que aceitou eeu Tabeliaõ aceito tanto quanto por direito me he permetido sendo atudo por testemunhas presentes que como atestador assignaram depois desta nota por mim Tabelliaõ ser lida edeclarada oCapitaõ Joaõ da Silva Fialho deAljubarrotta; Agostinho Pinto deste Lugar, Francisco Lourenço deste Lugar, António Dorta deste Lugar, José da Silva da Boieira, José da Silva dos casais deste Lugar e dou fe e dou fe pa por ser verdade todo oreferido eeu Alexandre Duarte Tabelliaõ das Nottas que o escrevi e assigno e declaro que com o testador e a rogo deste, por não poder bem escrever assignou a ditta testemunha oCapitaõ Joaõ da Silva Fialho efis esta declaração o Sobreditto Tabeliaõ declarei e assignei
Como testemunhaeaRogodo Testador por mo pedir e rogar João daSilva Fialho
Manel Coelho (O testador assinou, em letra muito trémula)
Agostinho P.to
(seguem-se assinaturas de cruz das testemunhas Francisco Lourenço, António Dorta, José da Silva da Boieira e José da Silva dos Casais)
Alexandre Duarte



(Com os nossos agradecimentos ao Arquivo Distrital de Leiria e à sua Directora, Dra. Paula Alexandre Cândido)

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