Entra hoje, oficialmente, em vigor o Acordo Ortográfico de
1990, de que tanta gente fala – há tantos anos – e tão poucos se deram ao trabalho
de conhecer.
Este blog, naturalmente, ambiciona ser lido e conhecido e é,
nesse sentido, um transmissor da língua portuguesa e apresentarem-se bem ou mal
escritos os textos nele publicados, quer dizer, com grafia correcta ou
incorrecta, não será, talvez, indiferente.
Considero, por isso, ser meu dever esclarecer os leitores da
minha posição pessoal sobre o assunto Acordo Ortográfico.
A meu ver, a nova ortografia oficial sofre de erros e
problemas evidentes e injustificáveis. É verdade, por exemplo, que entre outras
soluções muito questionáveis, o dito Acordo move, como alguém disse "uma 'guerra religiosa' de caça às consoantes mudas".
Dito
isto, a generalidade dos argumentos dos mais ferrenhos opositores do Acordo não
convence.
O célebre exemplo do cágado e do cagado que seria cagádo, não passa
de uma boutade (é assim, a palavra
francesa boutade tem uma boa meia dúzia de equivalentes em português: graça, brincadeira, bazófia, piada, piada, chiste
mas, para a nossa arreigada saloiice, sempre foi muito chique (e sai mais
um galicismo), até entre alguns dos mais estrénuos defensores da anterior
ortografia oficial, meter no discurso umas palavras de estrangeiro).
A verdade é que eu acordo todas as
manhãs e nunca preocupado com o acordo.
A intervenção estatal na ortografia do
português começa com a Reforma Ortográfica de 1911 (vale bem a pena ler o “Relatório da Comissão nomeada, por portaria de 15
de fevereiro de 1911, para fixar as bases da ortografia que deve ser adoptada
nas escolas e nos documentos oficiais e outras publicações feitas por conta do
Estado” que foi publicado no Diário de Governo,
n.º 213, de 12 de setembro de 1911 e está disponível online, em PDF, em: https://dre.pt/application/dir/pdfgratis/1911/09/21300.pdf)
Depois disso, há um longo rol de
tentativas de realizar o que se me afigura virtualmente impossível: a
uniformização da ortografia do português em todos os países que o usam como
língua oficial (v. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ortografia_da_l%C3%ADngua_portuguesa)
Pela minha parte, como já disse, esta é uma questão
que me não preocupa. Continuarei, por isso, a escrever sem atender à
conformidade ou desconformidade com o Acordo.
Mas não vejam nisso, os inimigos do Acordo, alguma devoção particular à
anterior ortografia nem, muito menos, qualquer presunção – que seria
absolutamente estúpida - de que o que eu aprendi na escola é que era o
verdadeiro português (e, a ortografia do português que eu aprendi foi diferente
da que o meu pai teria aprendido se pudesse ter ido à escola e, também,
diferente da que os meus filhos aprenderam).
O problema da língua portuguesa não é o modo como é
escrita.
É o ser tão pouco lida.
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