O passado domingo, dia 17 de Maio de 2015, foi dia grande na
Ataíja de Cima, com as cerimónias relativas à inauguração do monumento que fica
a perpetuar, gravados na pedra, os nomes dos ataíjenses que no cumprimento do
serviço militar, então obrigatório, participaram na guerra colonial, ou do
Ultramar, em Angola, na Guiné e em Moçambique e, ainda, daqueles
que participaram na 1ª Guerra Mundial e dos que, durante a 2ª Guerra Mundial, prestaram
serviço, em missão de soberania, em Cabo Verde e em Timor.
A legenda do monumento é justa:
Monumento aos
combatentes de Ataíja
de Cima
Inaugurado a
17-5-2015
Um
monumento é construção ou obra que recorda alguém ou algum facto memorável.
Ouvi, durante
os discursos, falar-se em homenagem mas, a verdade é que o monumento existe
antes de tudo por vontade desse ataíjenses que, nos anos de 1960 e 1970, estiveram nas guerras em África – e recordo aqui o José Catarino,
entretanto falecido e que foi um dos primeiros a falar-me nesta intenção - e,
se a iniciativa foi dos próprios que estiveram na Guerra, não seria curial
eles pretenderem homenagear-se a si próprios.
Do que se trata a meu ver, é de dar testemunho da
importância que tiveram, para cada um, aqueles dois anos das nossas vidas.
Nós tínhamos 20 anos.
Vinte anos que a grande maioria tinha passado aqui, nesta
borda da serra dura e difícil onde, então, não haviam estradas alcatroadas, nem
electricidade que só cá chegou em 1969, nem gás, nem água canalizada, os
veículos automóveis se contavam pelos dedos de uma mão e muitas ruas ainda eram
cobertas de mato. Apenas dois ou três, dois, julgo eu, viviam “lá para Lisboa”
onde os seus pais estavam emigrados. Dos outros, muitos já conheciam os campos
do Bombarral de neles andar às vindimas e, também as quintas dos arredores de
Lisboa, das ceifas e do trabalho nas vacarias.
Era esse o nosso mundo e fomos lançados para os confins da
África onde tudo era novo e diferente:
As pessoas, a paisagem, as plantas e os animais, a cor e o
cheiro da terra e havia a guerra.
Regressámos todos mas alguns, entretanto, foram levados por
doenças e acidentes.
Alguns, regressaram e, de imediato, se meteram, a salto,
para a França e a Alemanha, à procura de uma vida que não tinham esperança de
aqui conseguir.
Os que estamos, a maioria dos que estamos vivos, ainda
agora, quarenta ou cinquenta anos depois, se reúne, ano a ano, com os seus
camaradas de armas.
E, reúnem-se para rever amizades forjadas em condições muito
difíceis e, por isso, duradoiras.
E, reúnem-se para exorcizar fantasmas. Porque a muitos, como
bem disse o Fernando Veríssimo, ainda os perseguem as dificuldades e perigos
vividos e as marcas que deixaram nas suas memórias e, como também disse o
Presidente do Núcleo de Alcobaça da Liga dos Combatentes, afectam profundamente
a vida de tantos combatentes que ainda hoje sofrem, perante a quase indiferença
da sociedade e dos poderes.
Mas reúnem-se, certamente, para dar evidente testemunho da
importância que a guerra teve nas suas vidas.
E, a meu ver, é para dar testemunho da importância que a
guerra teve nas nossas vidas que este monumento, ingénuo como nós éramos, se
justifica.
Por tudo isso, o domingo dia 17 de Maio de 2015 foi, como já
disse um dia grande para a Ataíja de Cima. Um dia diferente porque, como ouvi
ao Joaquim Luís, os dias são iguais, as pessoas é que os fazem diferentes.
O Monumento
O monumento, esculpido pelo nosso jovem conterrâneo Nuno Matias, bem
como o arranjo do espaço envolvente só foram possíveis graças à generosidade
das seguintes empresas, às quais importa agradecer:
Limeport, Unipessoal, Lda. (http://limeport.pt/#!/)
Sousa & Catarino. Lda. (http://sousaecatarino.pt/)
Germano & Cordeiro, Lda.
Alberstone, Unipessoal, Lda. (http://www.alberstone.pt/index.php/pt/)
Marfilpe, Mármores e Granitos, S. A. (http://www.marfilpe.pt/pt/)
Lareiras Sousa, Lda.
Mármores Vigário, Lda. (www.mvc.pt/)
Agradecemos, também, à Câmara Municipal de Alcobaça pela
facilitação e colaboração na preparação do largo onde se ergue o monumento (lamentavelmente
não consigo, agora, identificar a Sra. Arquitecta que orientou a requalificação
do espaço).
Agradecemos, ainda, à Junta de Freguesia de Aljubarrota que
participou nessa requalificação, disponibilizando mão-de-obra e materais.
A Inauguração
As cerimónias do dia iniciaram-se com uma missa campal,
seguindo-se a inauguração do monumento.
Estiveram presentes o Presidente da Direcção Central da Liga
dos Combatentes, Sr. Tenente General Joaquim Chito Rodrigues, representantes das unidades
militares da região, o Presidente do Núcleo de Alcobaça da Liga dos
Combatentes, Sr. Joaquim Romão, os Presidentes da Câmara Municipal de Alcobaça
e da Junta de Freguesia de Aljubarrota, o Sr. Padre Ramiro, representantes dos
Núcleos da Liga dos Combatentes de Alcobaça, Batalha,
Leiria, Marinha Grande, Peniche e Rio Maior.
As honras militares foram prestadas por um destacamento da
Escola de Sargentos do Exército.
O Convívio
Seguiu-se um almoço convívio, no Salão Cultural Ataíjense, com
a participação de mais de 200 pessoas, no final, animado pelo Grupo Coral
Alentejano dos Serviços Sociais das Autarquias do Seixal, cuja actuação foi,
infelizmente, prejudicada pelas deficientes condições acústicas e pelo Grupo de
Concertinas Aldeias do Baça.
Agradecimentos finais
Tendo a certeza de, aqui, falar em nome de todos, importa
dizer que os combatentes ataijenses estão muito gratos a muitas pessoas,
instituições e empresas, - lamentando não poder mencioná-las a todas
especificadamente – que, de algum modo, colaboraram na realização do monumento
e no dia da sua inauguração.
Ao Núcleo de Alcobaça da Liga dos Combatentes, agradecemos a
preciosa colaboração e apoio, sem os quais nada teria sido possível, e o
impecável e rigoroso guião com que organizou as cerimónias do dia e lhes conferiu
uma dignidade que a todos honra.
Ao Sr. General Joaquim Chito Rodrigues que nos honrou com a
sua presença, obrigado por isso e porque quis estar connosco muito para além do
tempo que o protocolo exigiria.
Combatentes ataíjenses
Na base do monumento inscrevem-se os nomes dos ataijenses
que, no Séc. XX, participaram em guerras ou missões de soberania. São eles:
Angola
Francisco Coelho Agostinho
Francisco Constantino Coelho
João Cordeiro Quitério (João de Sousa Quitério)
José Coelho Matias
Manuel Graça Veríssimo
José Graça Coelho
João Tomás Coelho
Joaquim Coelho Agostinho
António Graça Salgueiro
José Henriques de Horta
José Dias Vigário
José Henriques Salgueiro
Alberto Tomás Coelho
Francisco Constantino Branco
Eduardo Cordeiro Dias
Francisco Eleutério dos Santos
José Lourenço de Sousa
José Marques Coelho
António Coelho Matias
Fernando Graça Veríssimo
José Gomes Sousa
Guiné
Francisco Maurício Vigário
José Ribeiro Vigário
Francisco Silva Salgueiro
José Cordeiro Catarino
Joaquim Costa Moura
José Graça L. Quitério
João Vigário Bernardino
Rafael Matos Maurício
Moçambique
João Félix Sousa
José Constantino Júnior
Joaquim Lourenço Machado
1ª Guerra Mundial
José Constantino
Luís Dias Vigário
Cabo Verde
João Manuel Sousa
José Graça Salgueiro
Timor
António Luís Sousa
Honras militares, após o descerramento do monumento
Um aspecto do Salão Cultural Ataijense durante o almoço
O Grupo Coral Alentejano dos Serviços Sociais das Autarquias do Seixal, durante a sua actuação
O Zé da Ilda preparando-se para apresentar o Grupo de Concertinas Aldeias do Baça
O Nuno Matias, junto da sua obra
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