A capela de Nossa Senhora da Graça da Ataíja de Cima teve, durante séculos, um aspecto muito diferente do actual.
Depois das obras que sofreu no final do Séc. XIX, durante as quais a imagem do orago foi objecto de uma restauração da pintura e ficou como hoje a conhecemos, o tempo foi fazendo as normais deteriorações pelo que, quando eu era pequeno, o telhado que então era em telha tradicional, de canudo, exigia reparação urgente. Os pardais de telhado honravam o nome, fazendo centenas de ninhos sob as telhas e, interiormente, o tecto de madeira acusava com evidência as frequentes infiltrações de água.
Lembro-me de um domingo de primavera, há mais de cinquenta anos, dedicado à remoção dos ninhos, trabalho de que se encarregaram alguns rapazes, entre eles o Zé Maçarico que era conhecido pela sua agilidade e leveza.
Nesse dia, perante larga assistência, todo o espaço em volta da capela ficou coberto das palhas dos ninhos destruídos, ovos às centenas e muitas minúsculas crias de pardal, ainda peladas, acabadas de nascer e logo mortas, a bem do telhado da igreja e das searas onde, se os deixassem, não tardariam a fazer estragos que uma pobre comunidade agrícola não podia nem queria aceitar.
Obras profundas que alteraram substancialmente o aspecto exterior, essas só vieram mais tarde, a seguir ao alcatroamento da Estrada do Lagar dos Frades.
A sacristia era, então, do lado direito do corpo da capela e, com vista a resolver o problema do estrangulamento do caminho, foi ela derrubada e a estrada alargada e construída uma nova sacristia na cabeceira da capela-mor, tal como hoje existe.
Aproveitando o desnível do terreno, este anexo foi erguido em dois pisos, destinando-se o segundo a sacristia e o primeiro a usos diversos, inclusive, casa mortuária.
Em data que não recordo, no âmbito da reabilitação de rebocos e colocação de azulejos nas paredes interiores, foram destruídas duas pinturas a fresco que existiam na parede de fundo da capela-mor, ladeando o nicho da padroeira.
Representavam dois evangelistas, se não me engano, São Mateus e São Marcos.
Em data que também não recordo, a capela sofreu obras que, além do mais, elevaram o telhado da capela-mor para um nível ligeiramente superior ao do corpo da igreja.
Finalmente, em 2003, a capela foi objecto de profundas obras de remodelação que, inauguradas em 13 de Dezembro desse ano pelo Bispo de Leiria-Fátima, lhe conferiram o aspecto actual.
Durante estas obras foram alteadas as paredes e picado o reboco na parte que cobria as antigas paredes que, assim, estão agora de pedra à vista.
O Campanário de pedra que contém o sino e sobrepujava o cunhal do lado direito da fachada, foi deslocado para o vértice do telhado e modificou-se o antigo óculo sobre a porta, onde havia um mostrador de relógio, abrindo-se um novo óculo, agora em forma de cruz grega, iluminado por vitrais.
A proteger a porta de entrada, foi construído um pequeno alpendre.
No interior, construiu-se um novo coro e substituiu-se o nicho onde está a imagem da padroeira, por uma cópia em mármore.
O nicho original da padroeira que, muito provavelmente, é obra da primeira metade do Séc. XVIII, é agora objecto de decoração no Adro.
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