quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Rua da Penicheira

Uma antiga rua da Ataíja de Cima


Durante muito tempo dei voltas à cabeça pelo nome de uma das ruas mais antigas da Ataíja de Cima. Perguntei e ninguém me respondia. Eu sabia, lembrando-me das histórias que a minha avó me contava, nos serões à lareira da velha casa onde viviamos, que era um nome terminado em eira mas nada mais do que isso.

Finalmente, um dia que puxei ao António Matias por histórias antigas, ele lembrou-se: Rua da Penicheira!

Lembro-me bem desta rua, já então sem uso público e todas as casas que a marginavam do lado norte (nordeste, melhor dizendo) já sem habitantes e usadas como palheiros.

Trata-se, no entanto, de uma das ruas mais antigas da aldeia, da qual só resta um pequeno beco e desenvolvia-se entre e paralelamente às ruas de Trás (agora chamada de Santo António) e à agora chamada Rua de Nossa Senhora da Graça, nas trazeiras das casas que foram do Couto, de Porfírio Coelho e de Sabino Vigário.

Sobre uma das suas portas, informa-me o Arnaldo que conhece bem o sítio, por aí ter sido criado, está inscrita uma data do Séc. XVIII (ainda não tive oportunidade de confirmar a data exacta), o que atesta bem a sua antiguidade.

Há duzentos anos, talvez menos, a Ataíja de Cima era isto. O Lugar que se comprimia nestas três ruas paralelas e numa quarta que se começava a desenhar a sul. Em dezenas de casas pequenas, fortemente encostadas umas às outras, partilhando, muitas vezes, a parede divisória, viviam quase duzentas pessoas, entre a Calçada, onde agora é o supermercado da Lúcia e o fundo da Igreja, onde o largo era marcado pelas casas, mais abastadas, do Veríssimo, do Machado, do Pote Serrano e de Joaquim Heitor.

Já havia a casa alta do Outeiro, uma ou duas casas nas Seixeiras e outras tantas nos Caramelos e nos Arneiros e, talvez, o mesmo nas Hortas. Mas isso, eram arredores.

Já viveria nas Hortas o Horta que deu o nome ao sítio? Ou as hortas já lá se faziam e foi o sítio que apelidou o habitante?

E quem seria a penicheira, cuja memória ainda há uns cinquenta anos perdurava no nome de uma rua que já não existe? Ainda não sei, mas tenho esperança de lá chegar. Até agora, só encontrei Gisela Salvador  uma amiga de Joaquina Rosalia que, em 1944, lhe escreveu de Peniche. Terá uma coisa a ver com a outra? Talvez sim, ou talvez não que, quando vasculhamos na história, tropeçamos, frequentemente, em pistas falsas… e algumas são tão boas que, com o tempo, passam a verdadeiras.

Planta cadastral do Lugar, tendo assinalada, a vermelho, a Rua da Penicheira.


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