sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Subsídios para a História do Salão Cultural Ataíjense


V – O ano de 1991

 (Emblema do Salão Cultural Ataíjense,
inspirado no brazão existente na Casa do Monge Lagareiro
– pintura de Carlos Sousa, 2001)

As contas revelam que, neste ano de 1991, continuou o abrandamento do ritmo da actividade que já se notara no ano anterior.
De facto, as receitas contabilizadas somaram, apenas, o montante de 585.000$00 correspondentes ao saldo líquido do 4.º Cortejo de Oferendas e festejos associados.
As despesas, essas foram no montante de 292.957$00, do que resultou a existência de um saldo líquido negativo a transitar para o ano de 1992, no valor de 553.304$00.

Neste ano foi celebrado, com a EDP, o contrato de fornecimento de energia eléctrica ao Salão.

Ou seja, depois dos anos de grande esforço, durantes os quais se logrou pôr o edifício de pé, dotando-o dos requisitos mínimos de funcionamento, designadamente as instalações sanitárias e a iluminação, agora era o tempo de consolidar contas, reduzir a dívida e descansar um pouco de um esforço prolongado que, durante os últimos cinco anos, tinha envolvido toda a população e de que, aliás, os dados financeiros disponíveis dão, apenas, uma pálida ideia, já que não refletem nem os materiais doados, nem os equipamentos disponibilizados para a construção, nem a mão-de-obra envolvida.

Apesar de tudo isso, houve ainda forças para, nos dias 14 e 15 de Setembro, levar a cabo o 4.º Cortejo de Oferendas, e festejos associados:

Dia 14, Sábado:
- 09H00 – Música gravada;
- 21H00 – Baile com “ZÉ CAFÉ E GUIDA”.

Dia 15, Domingo:
- 09H00 – Abertura do arraial com quermesse, divertimentos e música gravada;
- 13H00 – Início do Cortejo de Oferendas, acompanhado pelo Grupo de Zés Pereiras “OS TEIMOSOS”;
- 14H30 – Abertura do leilão de ofertas;
- 20H00 – Baile com o “Conjunto FERNANDO BARÃO”.

Durante os festejos funcionaram serviços de bar e restaurante e, certamente, terá sido impresso o costumado cartaz mas não o encontrámos na documentação consultada.

O evento foi patrocinado pelas seguintes empresas:
- Vigário & Machado, Lda;
- Café Centro, de Maria Lúcia Coelho Matias de Sousa;
- José Constantino Júnior (Zé Pirata);
- Alberto Fróis (Zé da Fisga);
- José da Horta Luís, serração de madeiras;
- Maria Lúcia Carvalho Gomes;
- José Lourenço de Sousa (Zé da Ilda);
- José Gomes de Sousa (Zé Frade);
- Rui & Santana, Serralharia, Lda;
- Matias, Gomes & Maurício, Lda.

Exposição ATAÍJA DE OUTROS TEMPOS
Um lugar à parte na descrição das actividades do Salão, no ano de 1991, merece a exposição ATAÍJA DE OUTROS TEMPOS que, nos dias 14 e 15 de Dezembro esteve aberta ao público.

Trabalho e iniciativa de um grupo de jovens, impulsionado e coordenado por Américo de Sousa Sabino, tratou-se, a meu ver, do mais importante evento cultural de que, até hoje, a Ataíja de Cima foi palco, uma notável mostra etnográfica, de grande valia estética e documental que a todos encantou.
Foi como se, por momentos, todos tivéssemos regressado a um passado que, apesar de relativamente próximo no tempo, se mostrava já muito distante pois, entretanto, a Ataíja tinha perdido muito das suas características rurais, por ter passado de uma economia agrícola de subsistência, a uma economia industrial.

No rés-do-chão do edifício ficaram os objectos relativos à vida no exterior: o carro de bois e as solas, a charrua e a grade, o trilho e demais instrumentos da eira. Testemunhos de vidas insólitas de ataijenses, como uma lanterna de mineiro ou um ovo de avestruz. As ferramentas das profissões: pedreiro, carpinteiro, sapateiro, lagareiro. E os ceirões e os alforges, poceiros e poceiras e todas as medidas que se usavam nos lagares de azeite e de vinho e na taberna. Os cornos (búzios), com que se chamavam os servos para a panha da azeitona e todos os objectos que, secularmente, permitiram arrancar de uma terra difícil, o sustento diário.
Tudo aquele grupo de jovens tinha desencantado, indo de casa em casa a pedir, de empréstimo, objectos para a exposição.

No 1º andar era a casa.
Feitas as divisões com andaimes de construção revestidos de mantas de trapo, lá estavam a casa-de-fora, a cozinha e o quarto, todos impecavelmente reconstituídos com móveis, roupas, loiças, talheres e adornos originais, roupas que se não usavam há décadas, peças de enxoval de noivas agora velhas ou, mesmo, das suas mães e avós há muito falecidas, mas que haviam sido carinhosamente guardadas no fundo da arca.
Estes foram dias de beleza e emoção, de espanto dos novos e de comoção dos velhos.

A Foto Pinto, de Aljubarrota, fez uma ampla reportagem da exposição, em fotografia e vídeo e O ALCOA publicou desenvolvida notícia.

Os objectos, esses voltaram à posse dos seus donos e, espero, continuam a ser tratados com o mesmo carinho e estarão disponíveis, na sua grande maioria, para uma reedição actualizada da exposição que bem se justificava, agora que estão passados mais de vinte anos.
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