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Nesta rubrica - Gente da Ataíja de Cima -, temos trazido aqui histórias de pessoas
extraordinárias, incomuns, pessoas que, por alguma razão, fosse a sua
inteligência, as suas acções ou os acasos da vida, se tornaram diferentes dos demais
mortais que as rodeavam.
Nessa galeria, de pessoas singulares, cabe bem Joaquina
Ribeiro Vigário, nascida em 1947, filha de Luísa Ribeiro e de José Vigário,
então titulares de uma das casas mais abastadas da aldeia.
O infortúnio que havia de marcar a sua vida manifestou-se
cedo, ainda antes do nascimento, já que o pai faleceu quando ela ainda se
encontrava na barriga de sua mãe.
A orfandade não era, no entanto, ao menos em termos
materiais, um problema.
Na abastada casa de sua mãe havia sempre criados, abegão e, nas
épocas próprias, ranchos de gente a garantir os diversos trabalhos agrícolas.
O pão, o vinho e o azeite eram em grandes quantidades, com
largos excedentes para venda.
Do azeite, nos melhores anos de safra da sua criancice e adolescência, entre
produção dos olivais próprios e maquias do lagar, chegaram a
juntar-se mais de vinte pipas[i].
O dinheiro guardava-se numa burra.
A pequena Joaquina ia crescendo, rodeada dos cuidados da
mãe, dos dois irmãos mais velhos, do padrasto e dos criados da casa e, numa
sociedade ainda absolutamente rural, a filha da Viúva[ii] parecia
destinada a ter uma vida muito melhor do que a generalidade dos seus
conterrâneos, a fazer-se mulher consciente da sua posição social e, era certo,
a casar bem, quer dizer, a casar com alguém de posses equivalentes.
Num mundo aparentemente imóvel, como aparentam ser todos os
mundos rurais, ninguém ousaria prever coisa diferente.
Mas, a má-fortuna resolveu atravessar-se, mais uma vez, na
vida da criança.
Com cerca de sete anos de idade, aquela que parecia ter todas
as condições para vir a ser a jovem mais requestada da aldeia, sofreu um
estúpido acidente, uma marrada de carneiro que havia de lhe fracturar a
espinha, condenando-a ao nanismo e à dependência.
Faleceu em 7-2012.
[i] 10.000
litros. Note-se que, na campanha de 1951, uma mulher a apanhar azeitona ganhou
15$00 por dia e um homem 27$00. O almude de 20 litros de azeite bom (3 graus)
vendeu-se a 270$00.
[ii] Apesar
de ter casado, em 2ªs núpcias, com José “Maneta”, Luísa Ribeiro foi conhecida,
sempre, por a Viúva.
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