Em setenta gavetas que se conservam no Arquivo Histórico da
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, guardam-se muitas dezenas de milhares de
fichas, cada uma contendo a identificação de uma ama e do seu cônjuge, o local
da sua residência, o nome do exposto que criava, a data em que este entrou na
SCML e outras informações.
É o
Registo de Amas por Concelho
(1851-1935) que, elaborado em razão das necessidades de gestão das muitas amas
a quem a Santa Casa pagava para criarem os expostos é, hoje, o mais rápido e
fácil meio para se chegar aos expostos e respectivas amas numa dada área
geográfica.
Na gaveta
Alcobaça, separadas por freguesias (Alcobaça, Santíssimo Sacramento;
Alfeizerão, São João Baptista; Aljubarrota, Nossa Senhora dos Prazeres;
Aljubarrota, São Vicente; Alpedriz, Nossa Senhora da Esperança; Benedita, Nossa
Senhora da Encarnação; Cela, Santo André; Cóz, Santa Eufémia) vamos encontrar
milhares de fichas, identificando outros tantos milhares de expostos e as
centenas de amas a quem estava cometida a sua criação.
Nós só queríamos
saber o que ali existiria relacionado com a Ataíja de Cima mas, porque foi
necessário manusear todas as fichas relativas à freguesia de São Vicente de Aljubarrota,
fácil foi ver que por todo o lado houve amas de expostos: Aljubarrota (vila),
Ataíja de Baixo, Ataíja de Cima, Cadoiço, Carvalhal, Casais de Santa Teresa,
Casal do Rei, Chãos, Cumeira de Baixo, Pedreira (Molianos), Quinta do Mogo e
Val Vazão.
No que diz
respeito à Ataíja de Cima e para os 39 anos decorridos entre 1841 e 1879, verificámos
a existência de 50 fichas, correspondentes a outros tantos expostos e a 32 amas
diferentes, das quais apenas dez foram responsáveis por mais de uma criança (7 amas,
foram-no de 2 crianças e as restantes 3 foram amas de, respectivamente, 3, 5 e
7 crianças expostas).
Ou seja, na
maioria dos casos, a actividade de criação de expostos foi meramente pontual e,
apenas em 3 casos estamos perante a aparência de actividade “profissional”.
Por outro lado, apenas
em 26 desses 39 anos decorridos entre 1841 e 1879, houve entradas de expostos que
vieram a ficar a cargo de amas ataijenses, sendo que a maioria se concentrou
nas décadas de 1850 e 1860, com, respectivamente, 19 e 21 crianças, num total
de 50.
Quem eram estas
amas de expostos?
Em alguns casos,
a actividade de criação de expostos era exercida com um carácter quase profissional
como, na Ataíja, aconteceu com Maria Joaquina, casada com Joaquim Carlos,
sapateiro que, entre 1849 e 1866, teve a seu cargo um total de 7 expostos.
Mas nem só
mulheres casadas podiam ser amas. Aqui, ama significa antes do mais, a pessoa a
quem a SCML entregava a criança exposta para criação.
Pessoa essa que, obviamente,
podia ser mulher casada mas, também, viúva (como a ataijense Úrsula dos Santos
ou Úrsula Maria que, sendo viúva de Bernardo de Moura, teve a seu cargo, entre
1841 e 1857, 3 expostos.
Também a mulher
solteira podia ser ama, como o foi Joaquina Dias que teve a seu cargo uma
exposta de nome Capitolina, entrada na SCML em 1869 e falecida em 1876.
E, amas ou amos
podiam ser os homens, fossem solteiros, como o Padre Manuel Vieira da Silva,
pároco de São Vicente que criou uma criança de nome Luís, ou viúvos como José
Coelho, da Ataíja de Cima, sapateiro que criou uma criança de nome António, entrada
em 1853 na SCML. Mais curioso, ainda, amos podiam ser os maridos das amas. É o
caso de um outro (ou o mesmo?) José Coelho, carpinteiro que, sendo casado com
Joaquina Bárbara, foi amo de 2 crianças, sendo que, posteriormente, é a sua
mulher que aparece como ama de outras 5 crianças. Tratar-se-á de um outro caso
onde a actividade de criação de expostos adquire um carácter quase
profissional.
Quanto ao
estatuto social, se é indiscutível que a generalidade das amas eram gente do
povo, esse não é o caso do Padre Manuel Vieira da Silva, já referido, nem o
caso de D. Maria do Laço Mendonça e Oliveira, casada com Raimundo José de Souza,
de Aljubarrota que foi ama de uma criança de nome Amélia, entrada na SCML em 1904.
Sem comentários:
Enviar um comentário