Atendendo às idades que lhe são atribuídas nos assentos dos
seus dois casamentos, como já vimos antes, (VER AQUI
e AQUI)
o Constantino terá nascido em 1852 ou 1853. Ora, nesses dois anos entraram mais
de 4.000 crianças na SCML (2373 em 1852) das quais 8, pelo menos, foram
baptizadas com o nome de Constantino (houve, ainda, uma Constantina e um João
Constantino).
Destes 8 Constantinos, 5 faleceram, o mais novo aos 15 dias
de vida e o mais velho antes de atingir os dezanove meses de idade.
Dos três restantes, um, entrado na SCML em 25-04-1852 (Lº 26
Matrículas, Varões, fls. 253. Nº 999), foi entregue a uma ama moradora na
Tourinha, freguesia de Nossa Senhora do Desterro dos Pousos, concelho de Leiria
e aí se manteve até depois dos dez anos, tendo o Termo de Vestir sido celebrado
com a mesma ama (Lº 20 de Vestir, fls. 24v.).
Outro, entrado na SCML em 18-09-1853, foi entregue a uma ama
moradora no Furadouro, freguesia de São Pedro de Dois Portos, Concelho da
Ribaldeira[i] e aí
ficou até, pelo menos, os dez anos de idade (Lº Matrículas n.º 33, Varões, fls
461, nº 755).
O terceiro e último dos três Constantinos sobreviventes,
entrou no Hospital dos Expostos de Lisboa em 2 de Julho de 1852 e foi baptizado
nesse dia com o nome de Constantino, nome da Casa[ii]:
“No dia dois de Julho
de mil oito centos cincoenta e dois anos às duas e meia horas da tarde entrou
pela Roda para esta Real Casa dos Expostos um Menino com os signais seguintes,
camiza e fralda d’algodão, coeiro de baetilha branca, vistido de chita azul,
volvedouro(?) de pano cru, na cabeça
meio lensso de/ branco com pintas encarnadas, tudo uzado. Foi solenemente
baptizado com o nome de Constantino por mim abaixo assignado; padrinho João
Victor Caldas; Ana Candida de Jesus; e para constar fis este assento.
O Pe João Rafael Nunes”
(Lº 130 dos Baptismos, fls. 317v., nº 1226).
No dia 19 seguinte, foi o Constantino entregue à ama-de-leite
Maria Joaquina, casada com José Joaquim, trabalhador, moradora no lugar do
Carvalhal, freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres de Aljubarrota, concelho de
Alcobaça.
Entre a SCML e a ama foram celebrados, sucessivamente, os
seguintes contratos:
- 11 meses de leite a 1$600, com início a 19-07-1852
|
- 17$600
|
- 12 meses de seco a 1$100, com início a 19-06-1853
|
- 13$200
|
- 12 meses de seco a
$900, com início a 19-06-1854
|
- 10$800
|
- 48 meses de seco a
$500, com início a 19-06-1855
|
- 24$000
|
- 36 meses de seco a
$300, com início a 19-06-1859
|
- 10$800
|
- 76$400
|
Chegado, assim, o Constantino há idade de dez anos, foi
celebrado com a mesma ama o costumado Termo de Vestir:
Aos 18 de Outubro de
1862 foi entregue a Maria Joaquina. Casada com José Joaquim, trabalhador,
moradora no lugar do Carvalhal ……
O exposto Constantino
por tempo de seis anos para o sustentar, vestir… etc…[iii]
(Livro nº 20 de Vestir, fls. 166v.)
Criado aqui ao lado da Ataíja de Cima, tudo aponta para que
este seja o nosso Constantino, o Constantino dos Santos. Não sabemos porquê, como
e quando passou do Carvalhal para a Ataíja. Certo é que, se era criado de
servir em casa da ama, criado de servir continuou e assim é identificado no
assento do seu primeiro casamento.
Era esse o seu estatuto desde os dez anos de idade: criado
de servir.
Como, inequivocamente, se dizia nos Termos de Abertura dos
Livros de Vestir, estes destinavam-se a registar os expostos “dados a servir
sem soldada”.
Como já vimos antes, o Constantino dos Santos casou, em
segundas núpcias dele, no dia 26 de Julho
de 1886, tinha então 34 anos de idade, com Serafina de Jesus, solteira,
doméstica, de 28 anos de idade e, também ela, exposta da Santa Casa da
Misericórdia de Lisboa.
Tal como no primeiro casamento, foram testemunhas João
Coelho e José Carvalho e, deste último sabemos que foi quem criou a Serafina
desde os 5 anos dela.
Do casamento nasceram cinco filhos (o primeiro, aliás,
apenas três semanas depois do consórcio), dos quais sobreviveram três:
Maria, nascida em 16-08-1886; José, nascido em 19-01-1890 e
outra Maria, nascida em 21-01-1894.
A Maria que conhecemos por Maria Constantina, casou uma
primeira vez e ficou viúva com pouco mais de trinta anos e uma filha pequena
que foi conhecida por Delfina Constantina e lhe deu dez netos, todos, felizmente,
vivos.
O marido, que até agora apenas identificamos pelo apelido
Tomás, foi uma das vítimas ataijenses da pneumónica.
De um segundo casamento não houve filhos.
A segunda Maria recebeu, por esse facto, a alcunha de Pequena.
Foi, pois, conhecida por Maria Pequena e, às vezes, por Maria Serafina.
Foi mãe de, pelo menos, cinco filhos, dos quais quatro deram
origem a uma vasta prole. Estão vivos vários netos.
O José, José Constantino, um dos ataíjenses que integrou o
Corpo Expedicionário Português que combateu em França durante a 1ª Guerra
Mundial, esse foi pai de sete filhos, dos quais dois estão vivos.
[i] Concelho
extinto em 1855 e integrado no concelho de Torres Vedras.
[ii] À margem dos
assentos de baptismo consta, geralmente, a indicação de o nome ser “da Casa”
quer dizer, atribuído por decisão do baptizante ou, “nome do escrito” quer
dizer, ser o que constava de algum papel que acompanhava a criança com o pedido
de se lhe atribuir esse nome.
Quando havia um papel com indicação do nome a atribuir
à criança, essa vontade era, em regra, aceite. Por vezes atribuía-se à criança
nome diferente do “nome do escrito”. Em geral, por o nome proposto não ser
considerado suficientemente cristão, (por ex., uma criança entrada em 2 de
Novembro de 1852, acompanhada de um papel onde se pedia que fosse baptizada com
o nome de Leónidas Tubarão, foi baptizada com o nome de Malaquias.
[iii] Veja, integralmente transcrito, o Termo de Vestir relativo à primeira mulher de
Constantino dos Santos.
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