Com o recente texto O Moleiro, que aqui publiquei em 24 de Agosto passado, atingiu o blog Ataíja de Cima o redondo número de 333 posts ou mensagens
publicadas.
De algum modo, achei que aquele interessante número das 333
mensagens publicadas merecia ser assinalado e isso fez com que tivesse andado a
pensar em qual havia de ser o tema do 334º post, questão que ficou, agora,
resolvida porque mão amiga me fez chegar uma deliciosa fotografia, de um grupo
de 14 jovens ataíjenses, tirada na festa de S. João, nos Olheiros, talvez em
1945.
À frente, da esquerda para a direita: Maria Jorge, Piquete, Maria Carlota, João Veríssimo, Joaquina Jorge.
Atrás, pela mesma ordem: Maria Tomé, Luísa (filha de José Ribeiro), Teresa Neto, Joaquina Tomé, Maria (filha de José Ribeiro), Maria Florinda, Manuel Branco, Joaquina Júlia, Francisco Rosa
Atrás, pela mesma ordem: Maria Tomé, Luísa (filha de José Ribeiro), Teresa Neto, Joaquina Tomé, Maria (filha de José Ribeiro), Maria Florinda, Manuel Branco, Joaquina Júlia, Francisco Rosa
Dos jovens aqui representados todos os homens já faleceram
e, das mulheres, julgo que estão vivas apenas duas. Os outros, alguns cedo de
mais, foram falecendo como é da ordem natural das coisas.
Duas das mulheres faleceram, precocemente.
A segunda, julgo que também ainda nos anos de 1950, foi a Teresa Neto (era irmã do recentemente falecido José Henriques ou José Neto, mais conhecido por Zé Diabo), a qual casou com um natural do Valado dos Frades que conhecíamos por Joaquim Cuco, residiu na casa que actualmente é do Paulo Carreira (Rodinhas) e foi a última camponesa da Ataíja de Cima a falecer de tétano, tal como contámos no post, Tétano.
À excepção do Piquete (Manuel Ângelo), que morreu solteiro e
conheci a viver com o irmão António na casa que tinha sido de seus pais, na Rua dos Arneiros, onde hoje
está a casa de um dos netos do João Veríssimo, todos os demais casaram e deixaram
descendência, mas apenas dois dos retratados, a Maria Florinda e o Manuel
Branco, formaram entre si um casal.
Note-se que quatro das raparigas nem para ir à festa
largaram o lenço da cabeça e assim denunciam a sua condição de camponesas
pobres. Não são, aliás, as únicas camponesas pobres presentes na foto. A minha
mãe, Maria Joaquina da Graça que foi conhecida por Maria Carlota (a Maria filha
da Carlota), ao centro à frente, não era menos pobre. Mas sempre a conheci
opiniosa, preocupada com o próprio aspecto e o do seu João. Lembro-me, por ex.,
do cuidado com que passava a ferro e apertava os grandes laços com que atava os
aventais que usava na venda do leite e isso torna-me mais feliz a sua memória.
No trajar do conjunto das raparigas as blusas brancas, que
todas usam, denunciam que se trata de um dia de descanso, que o uso do branco era
incompatível com o trabalho do campo. Talvez os lenços sejam mais bonitos do
que parecem na foto e o que julgamos preto seja, antes, azul escuro e os lenços
tenham cornucópias, volutas ou flores, mas, seja como for, uma rapariga solteira
queria-se discreta e casta e, para isso, o branco chega.
Os
homens, esses, como galos de crista no ar ou pavões de leque, podem ser mais
vaidosos e têm melhores condições para o mostrarem. Vão vestidos para a festa.
Penteados cuidados, camisas brancas, casaco e, dois deles, até gravata. Gostos
e dinheiro para os sustentar obtidos, certamente, nas maltesias das vindimas no
Bombarral e das quintas de Lisboa.
As
duas filhas de José Ribeiro, como conta a ti Luísa Emília, ainda felizmente
viva, foram à festa sem o pai saber.
___________
Um penhorado agradecimento à Maria Amélia Cordeiro, ilustre
ataijense e querida amiga, através da qual a foto me chegou às mãos e ainda me
ajudou a identificar a grande maioria dos fotografados.
Agradeço aos leitores ataíjenses que me informem de qualquer
erro ou imprecisão que deva ou mereça ser corrigida. Como lhes agradeço que me
emprestem as fotos interessantes que, certamente, andam lá por casa.
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