domingo, 16 de setembro de 2018

Uma foto da 1945




Com o recente texto O Moleiro, que aqui publiquei em 24 de Agosto passado, atingiu o blog Ataíja de Cima o redondo número de 333 posts ou mensagens publicadas.

É um bonito número, como diria o outro e são, também, uns bonitos quase nove anos de publicação regular, sempre atento ao objectivo que me propus de divulgar a Ataíja de Cima, a sua história e as suas histórias, gentes, costumes, tradições e actualidade, com destaque para a economia e os mais importantes factos e os eventos (agora já ninguém diz acontecimento) que moldam a vida social.


De algum modo, achei que aquele interessante número das 333 mensagens publicadas merecia ser assinalado e isso fez com que tivesse andado a pensar em qual havia de ser o tema do 334º post, questão que ficou, agora, resolvida porque mão amiga me fez chegar uma deliciosa fotografia, de um grupo de 14 jovens ataíjenses, tirada na festa de S. João, nos Olheiros, talvez em 1945.

À frente, da esquerda para a direita: Maria Jorge, Piquete, Maria Carlota, João Veríssimo, Joaquina Jorge.
Atrás, pela mesma ordem: Maria Tomé, Luísa (filha de José Ribeiro), Teresa Neto, Joaquina Tomé, Maria (filha de José Ribeiro), Maria Florinda, Manuel Branco, Joaquina Júlia, Francisco Rosa

Dos jovens aqui representados todos os homens já faleceram e, das mulheres, julgo que estão vivas apenas duas. Os outros, alguns cedo de mais, foram falecendo como é da ordem natural das coisas.
Duas das mulheres faleceram, precocemente.

A primeira foi a Joaquina Júlia (Joaquina Gomes, Júlia era alcunha, por ser filha de uma Júlia) que casou com João Frade (João da Graça de Sousa) e viveu o seu curto casamento na casa que ocupou o lugar do moinho referido no post O Moleiro. Foi mãe da Morena, do Zé Frade e de outra filha que saiu jovem da aldeia. A Joaquina Júlia faleceu muito cedo, em Maio de 1954, deixando aquelas três crianças muito pequenas, tinha a Morena, a mais velha das três, apenas cinco anos e sete meses.

A segunda, julgo que também ainda nos anos de 1950, foi a Teresa Neto (era irmã do recentemente falecido José Henriques ou José Neto, mais conhecido por Zé Diabo), a qual casou com um natural do Valado dos Frades que conhecíamos por Joaquim Cuco, residiu na casa que actualmente é do Paulo Carreira (Rodinhas) e foi a última camponesa da Ataíja de Cima a falecer de tétano, tal como contámos no post, Tétano.


À excepção do Piquete (Manuel Ângelo), que morreu solteiro e conheci a viver com o irmão António na casa que tinha sido de seus pais, na Rua dos Arneiros, onde hoje está a casa de um dos netos do João Veríssimo, todos os demais casaram e deixaram descendência, mas apenas dois dos retratados, a Maria Florinda e o Manuel Branco, formaram entre si um casal.

Note-se que quatro das raparigas nem para ir à festa largaram o lenço da cabeça e assim denunciam a sua condição de camponesas pobres. Não são, aliás, as únicas camponesas pobres presentes na foto. A minha mãe, Maria Joaquina da Graça que foi conhecida por Maria Carlota (a Maria filha da Carlota), ao centro à frente, não era menos pobre. Mas sempre a conheci opiniosa, preocupada com o próprio aspecto e o do seu João. Lembro-me, por ex., do cuidado com que passava a ferro e apertava os grandes laços com que atava os aventais que usava na venda do leite e isso torna-me mais feliz a sua memória.

No trajar do conjunto das raparigas as blusas brancas, que todas usam, denunciam que se trata de um dia de descanso, que o uso do branco era incompatível com o trabalho do campo. Talvez os lenços sejam mais bonitos do que parecem na foto e o que julgamos preto seja, antes, azul escuro e os lenços tenham cornucópias, volutas ou flores, mas, seja como for, uma rapariga solteira queria-se discreta e casta e, para isso, o branco chega.

Os homens, esses, como galos de crista no ar ou pavões de leque, podem ser mais vaidosos e têm melhores condições para o mostrarem. Vão vestidos para a festa. Penteados cuidados, camisas brancas, casaco e, dois deles, até gravata. Gostos e dinheiro para os sustentar obtidos, certamente, nas maltesias das vindimas no Bombarral e das quintas de Lisboa.


As duas filhas de José Ribeiro, como conta a ti Luísa Emília, ainda felizmente viva, foram à festa sem o pai saber.

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Um penhorado agradecimento à Maria Amélia Cordeiro, ilustre ataijense e querida amiga, através da qual a foto me chegou às mãos e ainda me ajudou a identificar a grande maioria dos fotografados.
Agradeço aos leitores ataíjenses que me informem de qualquer erro ou imprecisão que deva ou mereça ser corrigida. Como lhes agradeço que me emprestem as fotos interessantes que, certamente, andam lá por casa. 

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