sexta-feira, 12 de março de 2021

Casamentos em S. Vicente de Aljubarrota na 1ª Década do Século XIX

 

Dos livros de casamentos da Freguesia de S. Vicente de Aljubarrota que se encontram digitalizados e actualmente disponíveis em digitarq.adlra.pt,[i] o mais antigo é o Livro de Casamentos da Fregª de S. Vicente / Livro 1º / 1802 a 1826, cujo termo de abertura é o seguinte:

“Este livro é para se fazerem os assentos dos casamentos da Fregª de S. Vicente de Aljubarrota deste Bispado de Leiria 12 de Janrº de 1803 Dr. José Joaquim Duarte Amado

Sem embargo, o primeiro dos assentos é relativo a um casamento ocorrido em 7 de Dezembro de 1802. Vamos desprezar este e concentrarmo-nos nos celebrados na década correspondente aos anos de 1803 a 1812.

 No período celebraram-se um total de 68 casamentos, à média de 6,8 casamentos/ano variando o nº efectivo de casamentos entre o máximo de 11 (em 1803 e 11812) e o mínimo de 3 em 1810.

 


1810 foi o ano em que, em Outubro, após a Batalha do Buçaco, a região foi vítima da passagem sucessiva dos exércitos de Wellington que no seu recuo para as linhas de Torres e a política de terra queimada, provocou grandes devastações, e de Massena que, em perseguição daquele, esteve acampado na Região[ii] e, daí até à sua retirada em abril de 1811, ficaram estacionadas em frente das linhas de Torres e na região entre Rio Maior e Santarém e fizeram sucessivas incursões na região para pilhagem de alimentos e forragens. No entanto, não parece poder afirmar-se uma relação directa entre o diminuto número de casamentos havidos nesse ano em S. Vicente e esses factos, porquanto, tratando-se embora do ano com menor número de casamento (3) a verdade é que um deles foi celebrado em novembro tendo os outros dois tido lugar em fevereiro e março anteriores, mas nenhum nos restantes meses, nem janeiro ou setembro, dois dos meses normalmente com mais casamentos.

Olhando para a distribuição dos casamentos ao longo do ano, tem-se uma confirmação do ditado popular que postula que “boda molhada é boda abençoada”. De facto, a distribuição do somatório dos casamentos do período pelos meses do ano, dá o seguinte resultado:

Distribuição dos casamentos pelos meses do ano

jan

fev

mar

abr

mai

jun

jul

ago

set

out

nov

dez

8

4

1

3

1

1

1

3

14

6

22

4

EEm flagrante contraste com a actualidade, quando os meses de Verão são os preferidos para as festas de casamento.

Neste período paroquiaram S. Vicente de Aljubarrota 3 padres: o Cura Tomás de Aquino da Costa, que o fazia desde 1793 e prolongou o seu magistério até novembro de 1810, quando foi sucedido pelo Cura José Maria de Sequeira que assinou o seu primeiro casamento em abril de 1811, mantendo-se até abril de 1812, seguindo-se o Cura José Joaquim Leitão que assina o seu primeiro assento de casamento em junho de 1812. Dos 2 primeiros os assentos que agora estudamos não nos fornecem outros elementos. Do padre José Joaquim Leitão, ficamos a saber que em janeiro de 1803 já era padre coadjutor da freguesia de S. Vicente e que em 1805 era igualmente coadjutor mas, agora, de Nossa Senhora dos Prazeres, da mesma Vila de Aljubarrota, cargo que também desempenhava em 1809. Não deixa de ser curioso este trânsito do padre entre as duas freguesias de Aljubarrota, sabendo nós que o curato de S. Vicente era da apresentação das Colegiadas de Porto de Mós[iii], enquanto o Vigário de Nossa Senhora dos Prazeres era apresentado pelo Abade Bernardo de Alcobaça[iv].

Os assentos mencionam, seja como oficiantes, seja como testemunhas, além dos curas Tomás de Aquino da Costa e José Maria de Sequeira, mais os seguintes padres, todos eles, como havemos de ver em outros estudos, naturais do concelho de Aljubarrota.

- José Joaquim Leitão, ou José Leitão, ou Joaquim Leitão que, como vemos, foi Coadjutor de S. Vicente e de Nossa Senhora dos Prazeres e, finalmente, Cura de S. Vicente.
- João Gomes, da Ataíja de Cima.
- Joaquim de Sousa, natural da Ataíja de Cima que, sabemo-lo, foi Cura da Paróquia de Santo António do Arrimal e faleceu em 4-2-1827, sendo sepultado na Capela da Nossa Senhora da Graça da Ataíja de Cima.[v]
- José Coelho, do Casal da Eva.
- Manuel Coelho de Sousa, ou Manuel Coelho, ou Manuel de Sousa, natural dos Casais de Santa Teresa, cujo testamento já estudámos .[vi]
- Rufino da Fonseca, que em Dezembro de 1808 é vigário encomendado de Nossa Senhora dos Prazeres
- João Pedro da Cunha, prior de S. Pedro de Porto de Mós
- António José Gomes Botelho, certamente familiar dos capitães Manuel Pedro (Manuel Pedro Gomes Botelho) e Gregório José Gomes Botelho.
- Reverendo Dr. José de Sousa, da Vila.

E, outras pessoas importantes:

- Alferes José Tavares Amado ou José Tavares
- Capitão José Joaquim Tavares Amado, ou José Tavares Amado. Trata-se, certamente, da mesma pessoa que em 1807 era Alferes e em 1809 já era Capitão.
- Alferes António da Fonseca, natural de Leiria casado com Josefa Clara Xavier do Couto, natural de Famalicão, mas residentes em Aljubarrota de onde era natural a filha Rita Rosa da Fonseca que casou com o viúvo Francisco Viegas Machado que já encontrámos como proprietário de escravos[vii].
- Capitão Bartolomeu José Rodrigues Carreira, ou Bartolomeu Rodrigues Carreira, casado com D. Maria Doroteia Ângela de Sequeira, pais de Fortunata Maurício de Sequeira que casou com Joaquim Bernardo, filho do Dr. Silvestre Triaga de Mendonça
- Capitão Manuel Pedro Gomes Botelho, ou Manuel Pedro
- Dr. Francisco Correia Triaga de Mendonça, ou Francisco Correia, ou Francisco Correia Triga, ou Francisco Correia de Mendonça.
- Dr. Silvestre Triaga de Mendonça.

Os casamentos eram por regra celebrados na Igreja Paroquial de S. Vicente. No entanto, um deles teve lugar na Paroquial de N. S. dos Prazeres e outros em capelas das aldeias da freguesia: cinco em N. S. da Graça, da Ataíja de Cima, três em Santa Teresa, dos Casais de Santa Teresa e um em S. Sebastião, na Ataíja de Baixo. Parece não haver nenhuma razão especial para o facto que, acreditamos, se deverá à vontade dos noivos.

Os párocos raramente assinalaram o estado dos noivos. Onde não há outra indicação, presume-se que eram solteiros, o que, expressamente, só é dito em 10 casos no que diz respeito aos noivos e 11 no que respeita às noivas. Como viúvos, geralmente com identificação do cônjuge falecido, são indicados 13 noivos (19,1%) e 5 noivas (7,3%), sendo que num único caso ambos são viúvos.

Onde foram viver os novos casais?

O filho do Dr. Triaga e a filha do Capitão Bartolomeu, foram assistir para a Quinta de S. Paio, Freguesia de Santa Maria da Vila de Porto de Mós.

De quatro não se indica o lugar do novo lar e, dos que saíram da freguesia, seis fixaram-se em diferentes lugares da outra freguesia de Aljubarrota, N. S. dos Prazeres, cinco foram para outras freguesias que hoje fazem parte do concelho de Alcobaça (Alpedriz, Cela, Évora, Maiorga e S. Martinho do Porto), um ficou-se na fronteira da freguesia, em Cumeira de Cima, já na freguesia do Juncal e Concelho de Porto de mós. Apenas um casal foi viver mais longe, em Abitureiras (a meio caminho entre Rio Maior e Santarém).

Os outros cinquenta ficaram na freguesia, em regra na aldeia de onde eram, ou um deles, originários. Ou seja, 73,5% dos novos casais ficaram a residir na freguesia e mais 8,8% na freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres. O que significa que, pelo menos 82,3% desses novos casais se fixou na área da actual freguesia de Aljubarrota, distribuídos pelos diversos lugares, como segue:

 

Lugares da freguesia onde assentaram os novos casais

(N. S. Prazeres)

Ataíja de Baixo

Ataija de Cima

Cadoiço

Casais S. Teresa

Cumeira de Baixo

Vila (S. Vicente)

6

12

12

6

11

3

6

 Fará aqui sentido lembrar que, cerca de cinquenta anos antes, as Memórias Paroquiais indicam para alguns destes lugares os seguintes vizinhos: Ataíja de Baixo 32, Ataíja de Cima 53, Cadoiço 10, Casais S. Teresa 32, Vila (S. Vicente) 73.

Independentemente do crescimento que tais lugares tenham ou não sofrido entre 1758 e 1802, assunto sobre o qual, de momento, não possuímos informação, o número de novos casais nesta 1ª década de 1800 representará, certamente, um importante acréscimo ao respectivo número de fogos e, por isso, ao crescimento populacional futuro.

 De onde eram naturais e onde moravam as pessoas referidas nestes assentos, noivos, pais e testemunhas?

Infelizmente, os assentos umas vezes são omissos e outras são pouco claros, não sendo fácil distinguir quem mora aonde, ou quem é natural de onde. Assim, não havendo condições para quantificar com rigor a frequência com que surge (ou devia surgir) cada uma das localidades mencionadas, o que seria interessante para analisar a mobilidade geográfica da população de Aljubarrota neste início do século XIX, diremos apenas que as povoações mais referidas são, naturalmente, aquelas da freguesia que mais beneficiaram da nupcialidade mas, também, povoações de freguesias vizinhas, desde logo Nossa Senhora dos Prazeres e, nesta, o Carvalhal, a sua maior aldeia mas, também, o Juncal e a Maiorga, ou a Cela. As referências à cidade de Lisboa (3), dizem respeito à naturalidade da mãe de um dos nubentes e, também, ao facto de dois deles serem expostos do “Real Hospital de Cidade de Lisboa”. Referências a localidades mais afastadas, são pontuais e dizem respeito a uma única pessoa por localidade.

Ainda assim, vale a pena elencar as sessenta povoações, casais ou lugares mencionados nestes assentos porque isso, a par das já referidas localidades de assento dos novos casais, nos dará apesar de tudo, alguma noção da referida mobilidade geográfica da população deste pequeno concelho rural. No quadro abaixo inclui-se o nome da povoação ou lugar, a freguesia respectiva e, se julgado necessário para melhor identificação, o município actual. 

Lista das povoações mencionadas nos assentos

 

Abitureiras, Santarém

Aldeia Galega da Merceana, Alenquer

Ataija de Baixo, SV

Ataíja de Cima, SV

Alvados, Porto de Mós

Andaínho, Juncal

Bispado de Orense, Reino da Galiza

Bizorreiro, Paião

Boavista NSP

Boieira, Juncal

Cadoiço, SV

Carvalhal, NSP

Casal da Boieira, Juncal

Casal da Eva, NSP

Casal da Fonte, Juncal

Casal da Ladeira, Pousos, Leiria

Casal do Botas, Maiorga

Casal da Ortiga, Évora

Casal do Mogo, SV

Casal do Rei, NSP

Casal do Rei, SV

Casal dos Vales, Maiorga

Casal Novo, Juncal

Casal Velho, Juncal

Casais de S. Teresa, SV

Casal do Boieiro, Juncal

Casal do Rei, SV

Cela

 Chãos, SV

 Chequeda, NSP

Cidade de Leiria

Cividade, Batalha

Costa Barrenta, Juncal

Cumeira de Baixo, SV

Cumeira de Cima, Juncal

Ervedeira, Coimbrão

Lisboa (RHCL)

Famalicão

Feteira, São João, Porto de Mós

Juncal

Lagoa do Cão, NSP

Maiorga

Moita, Pataias

Pedreira do Muliano, NSP

Pedreiras, S. Pedro, Porto de Mós

Póvoa, Cós

Quinta da Cruz, NSP

Quinta de S. Paio, Santa Maria, Porto de Mós

Quinta de Ricos Vales, Juncal

Rebotim, Alpedriz

Ribadaves, Souto da Carpalhosa

Ribeira de Cima, S. Pedro, Porto de Mós

Lisboa, S. Miguel de Alfama,

S. Paulo, Coimbra

S. Pedro, Porto de Mós

Sta. Maria, Porto de Mós

Várzeas, Souto da Carpalhosa

Venda Nova, S. Martinho do Porto

Vila, NSP

Vila, SVA

Viseu

Ou seja, tudo se passa numa área muito restrita centrada na freguesia e alargando-se, cada vez mais tenuemente, ao então concelho e aos concelhos imediatamente vizinhos. Fora isso, apenas uma ou outra pessoa justifica as raras referências a localidades mais distantes.



[i] Consultado em 12.03.2021

[ii] O General Koch, nas suas Memórias de Massena, Livros Horizonte, Lisboa, 22007, refere-se expressamente a tropas estacionadas em Calvaria, Alcobaça, Pedreiras, Molianos e Candeeiros

[iii] “ O parocho desta igreja é cura annual de alternativa; aprezentação das colegiadas de Sam Pedro e Santa Maria da villa de Porto de Moz”, conf. Memórias Paroquiais (1758). Volume III, João Cosme e José Varandas, Caleidoscópio e CHUL, Lisboa, 2011.

[iv] Conf. Loc. Cit.

[v] Ver Ordenação Sacerdotal de Fábio Bernardino, in Ataíja de Cima: Ordenação Sacerdotal de Fábio Bernardino (ataijadecima.blogspot.com), consultado em 12.03.2021

[vi] Ver O testamento do Padre Manoel de Souza, in Ataíja de Cima: O testamento do Padre Manoel de Souza (ataijadecima.blogspot.com), consultado em 12.03.2021

[vii] Ver Escravos em Aljubarrota, in Ataíja de Cima: Escravos em Aljubarrota (ataijadecima.blogspot.com), consultado em 12.03.2021

1 comentário:

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