segunda-feira, 23 de julho de 2012

Os Burros


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Os burros já mereceram outras referências neste blog, fosse a propósito de uma visão pessoal do que era a Ataíja de Cima em meados do Séc. XX (AQUI),  fosse a propósito dessa figura que foi o José Barata (AQUI),  fosse, ainda, a propósito desse acessório, indispensável para atrelar o burro ao carro a que, na Ataíja, chamamos brunil. (AQUI)

Dois dos últimos (não sei, mesmo, se não serão os últimos) burros ainda existentes na Ataíja pertencem, um, a Manuel Carlos Tomé:


 E, o outro, ao meu primo João da Graça Coelho (João Porfírio):



Longe vão os tempos em que em cada casa havia um burro, auxiliar indispensável dos trabalhos agrícolas.
Já não há, sequer, tosquiadores ou ferradores como se vê do pelo e dos cascos dos animais fotografados. 

Mas, dos muitos burros que havia quando eu era pequeno, lembro-me, particularmente, de dois ou três casos:
O meu tio Porfírio (pai do João) herdou do meu avô José Agostinho um burro de corpo pequeno, pelagem totalmente preta (era o africano) e um feitio irrascível:
Detestava, especialmente, ser tocado na garupa, fraqueza que nós os miúdos explorávamos quando estava preso à manjedoura, picando-o com paus, o que dava azo a monumentais sessões de coices e pinchos.
Também o meu tio António Coelho Quitério (Sapatada) teve um burro com muito mau feitio. A esse não se lhe podia tocar nas orelhas que ficava completamente desvairado, tentando morder o autor da ofensa. Resultado: nunca se lhe tirava o cabresto.
Um outro burro deste meu tio foi, também, um animal notável: Sabia de cor o caminho para todas as terras do dono.
Chegado ao cruzamento com a Rua dos Arneiros, se virado para o lado da Ataíja de Baixo e mandado andar, era certo e sabido que só ia parar junto ao terreno que o meu tio aí tinha e a que chamávamos Terra da Ana, junto à Lagoa Cova.
Se, entrado na Rua das Seixeiras, se lhe soltasse a arreata, só pararia na Figueirinha e, assim, sucessivamente.
Mais complicado era levá-lo a Aljubarrota já que, passado o Penedo Furado, o bicho recusava-se a seguir em frente, enfiando-se para o caminho que aí existe, para o lado direito e, por sua vontade só pararia numa fazenda que o dono ali possuía. Só depois dessa manobra se conseguia dar-lhe a volta e continuar, então, para Aljubarrota ou Alcobaça.

Era burro e teimoso mas, tinha uma memória notável!


Glossário:
Pincho s.m. - Cabriola. O coice do burro, dado elevando a garupa, com as duas patas traseiras ao mesmo tempo. 
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