A Rua das Seixeiras que prolonga, a partir do Outeiro, a Rua dos
Arneiros seguindo em direcção aos Casais de Santa Teresa é parte, como já
referi mais de uma vez, da Estrada Municipal que ligava os Casais de Santa
Teresa à Lameira, pelas Ataija de Cima e de Baixo e Carvalhal e foi classificada como estrada municipal de
2ª classe pelo Decreto de 28 de Julho de 1894, durante o governo de
Hintze Ribeiro.
Em meados do Século XX, as mulheres e as crianças andavam na sua maioria descalças (poucos homens também) e quando as estrumeiras eram novas, frequentemente com carrascos e outras plantas de folhas espinhosas, alagavam-se algumas pedras das paredes para criar um passadiço (na verdade, para avisar o dono da estrumeira que, invariavelmente era o da parede, a ter um pouco de cuidado e atenção aos seus vizinhos). Podemos ter uma noção do que eram essas estrumeiras se soubermos que, alguns anos antes, em meados da década de 1940, quando José Vigário ainda fazia estrumeira no Adro da Capela resolveu, em vésperas de festa, colocar aí uma estrumeira nova e para que as gentes pudessem circular sobre ela, contratou um rancho – onde estava a minha mãe – para a malhar a mangual, amaciando assim as suas partes mais agrestes.
Há setenta anos a Rua das Seixeira distinguia-se por melhor razão.
Nos anos de 1930 um comerciante alcobacense, Diamantino dos Santos Vazão, investiu fortemente num lagar de azeite que se situava entre a Ataija e os Casais de Santa Teresa, perto da estrada de D. Maria Pia. Uma parte do(s) edifício(s) ainda lá estão, logo a norte do IC9 e, há alguns anos, aí funcionava (não sei se ainda funciona) uma oficina de torneiro.
Para garantir um bom acesso ao lagar, o Diamantino mandou reparar e calçar a pedra e seixos toda a Rua das Seixeiras e a vereda que, a partir do pinhal do Vigário para a direita, passou a ser conhecida por Estrada do Diamantino.
Em meados do Século XX, a primeira casa da Rua das Seixeiras, pelo poente, era a de João Luís e Rosalía de Carvalho que aí viviam com a filha solteira Maria Rosalía, a “enfermeira” da terra.
Logo, separada por um estreito beco, uma casa antiga, de alpendre, onde vivia Maria Catarina que sempre conheci velha e só.
A Maria Catrina tinha um medo pânico de qualquer espécie de bestas e veículos, fosse um carro de vacas ou de burro, uma bicicleta ou um raro automóvel, chegando a derrubar paredes na ânsia de deles fugir, o que fazia dela alvo de impiedosa chacota.
Do outro lado da rua, também só, vivia a Benedita. Era viúva
e tinha uma filha, mas a essa não me lembro de jamais ter visto. O marido, ao
que parece, tinha morrido (ou veio a morrer) na América, onde andava emigrado e terá ganho os
dólares que justificaram o pequeno luxo que são as cantarias de verga
arredondada, como ainda hoje se vê no que agora são arrumos do António Sabino.
Seguia-se a casa e taberna do Petinga, onde este vivia com a mulher e sem filhos e agora está a de uma sua sobrinha e, do outro lado da rua, uma pequena casa recuada onde viveu Francisca Félix, viúva de Matias Ângelo e onde o neto Manuel Félix teve oficina de sapateiro. Seguia-se a casa mais recente construída para o casamento da filha Maria Matias ou Maria Félix, que aí viveu com o marido Francisco dos Casais e onde criaram os dez filhos.
(falamos, até agora de seis casas e, curiosamente, em cada uma delas havia uma pessoa que não era natural da aldeia. Mas, isso é assunto para quando tratarmos de fluxos migratórios).
Seguia-se a casa onde viviam a minha tia Angélica com o marido e a filha. Desta casa já falei no post Ataijenses na(s) América(s)
No sítio onde agora está a casa do Zé Frade e antes esteve o moinho de que falei no post O Moleiro, estava então a casa do pai do Zé, João Frade.
Junto ao caminho, a casa, hoje muito degradada, de Manuel Luís e Maria da Graça, pais do João e de mais oito filhos (os que sobreviveram de doze partos), entre eles o Quim Velho e o Luis da Graça.
Entre ambas as casas, a bela cisterna a que me referi no post A Cisterna.
Seguia-se a casa de que hoje só restam ruínas, onde
António Maria da Silva, o Orelha e Joaquina Porfíria criaram, pelo menos, sete
filhos.
Do outro lado da rua, as casas de duas filhas do
Manuel Luís. Primeiro, a de Luísa da Graça, casada com Joaquim Minderico, um
Constantino que herdou a alcunha do avô materno. Depois, construída em 1941, a
de Rosalía casada, em segundas núpcias dele, com José António Maurício de alcunha o Zé
Alemão, o qual tinha ficado viúvo de uma irmã dela, Conceição, tragicamente
desaparecida.
E, só nos Casais de Santa Teresa voltávamos a ver casas.
Tudo visto, em 1950, havia na Rua das Seixeiras 12
casas e cerca de 40 moradores.
De onde
vem o nome da Rua das Seixeiras
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