segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Gente da Ataíja de Cima - O padrinho Fialho

O padrinho Fialho morava numa casa de alpendre (com uma fachada muito idêntica à da casa de Amélia Ribeiro) que existia num beco ali à Rua de Traz, no sítio exacto onde agora está a casa de José Luís, o Cangalheiro. Era casado com a madrinha Quitéria, mais de vinte anos mais nova (ouvi dizer à minha avó que, ele já homem, sendo interpelado pela ausência de namorada, terá dito, à passagem do cortejo de um baptizado, que se ia casar com a baptizanda, o que veio a acontecer). Não tiveram filhos mas, em contrapartida, tiveram muitos afilhados.
O padrinho Fialho tinha fama de ter dinheiro e o hábito de esconder as moedas em bolsas que cozia no forro da jaqueta. Era padrinho do meu tio António Sapatada e, teria este sete anos (em 1917, portanto), despejou sobre a mesa da casa de fora uma lata que tinha cheia de moedas, mandando à criança que escolhesse uma. Naturalmente e para aborrecimento do padrinho que preferia perder uma moeda negra, a escolhida foi uma moeda branca, de cinco tostões, com o que o meu avô comprou as primeiras botas do rapaz.

Foto da moeda a que se refere o texto, retirada de http://www.dbcoins.com/ - moeda de prata .835, peso 12,5 gr., diâmetro 30mm - moedas de 50 centavos com aspecto idêntico foram cunhadas em Portugal até 1968 mas, em 1927, já eram feitas numa liga de níquel-bronze.

Por curiosidade, veja-se que, com a cotação da prata a € 411, 40, aquela moeda valeria hoje, ao peso, à volta de € 5,00. Cerca de 2.000 vezes mais. Insuficiente, no entanto, para comprar umas botas.

Se, por acaso, a moeda em causa tivesse sido cuidadosamente guarda até hoje, encontrando-se em muito bom estado (aquele a que os colecionadores chamam Bela), valeria ela cerca de € 18,00, preço a que é possível encontrá-la nas casas da especialidade. Continua a não chegar para comprar umas botas.

Para resolvar estes problemas do valor actualizado do dinheiro, está previsto quer no Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRC) quer no Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) que seja anualmente publicada uma Portaria de actualização dos coeficientes de desvalorização da moeda. Segundo a Portaria n.º Portaria n.º 772/2009, de 21 de Julho, o coeficiente de desvalorização da moeda para efeitos de correcção monetária dos valores de aquisição de determinados bens e direitos era, em 2009 e relativamente a 1917, de 2.241,65, pelo que cinquenta centavos de 1917 correspondem hoje a cerca de € 5,60. Continua a não chegar para comprar umas bota.

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