domingo, 14 de março de 2010

Carapaus secos


Os carapaus secos, comidos hoje, são sabores de juventude, como me dizia a Elisa Damião contando-me que, uma vez, tendo visto em Alcobaça uns, muito bonitos, os comprou, levou para Lisboa e, cheia de entusiasmo, convidou um grupo de amigos para ir lá a casa, provar um petisco da sua terra.

Não lhe tocaram!

Só quem por aqui foi criado os sabe apreciar, sejam crus, cozidos, com batatas às rodelas, sobre um refogado ou, melhor ainda, levemente aquecidos nas brasas, temperados com azeite, vinagre e alho migado e comidos sobre fatias de pão.

Também num dia em que, vindo eu do Tribunal, pasta característica dos advogados na mão e toga debaixo do braço, vi, pela primeira vez em Lisboa, na Rua do Arsenal, carapaus secos à venda, entrei e, conversando com o lojista, perguntei-lhe se se vendiam bem.
Ao que, visivelmente constrangido, aparentemente desconhecedor que o sol das praias africanas é propício à secagem do peixe, acabou por, timidamente, responder que eram os pretos que mais compravam.

Mas a história mais deliciosa aconteceu-me quando, visitando a minha tia Luísa Carlota, então já velha e há muito viúva, expliquei à minha mulher que, quando eu era miúdo, ali havia sempre carapaus secos, dentro de um crivo.
Ao que a minha tia se levantou da lareira acesa onde conversávamos e, chegando ao costumado sítio dos carapaus, de lá tirou o crivo, dizendo:

Ainda aqui estão!

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