sábado, 14 de novembro de 2009

Ataíja e as Invasões Francesas

Primeira passagem das tropas inglesas


Em 1 de Agosto de 1808, durante a primeira Invasão francesa de Portugal, um corpo expedicionário britânico com cerca de 9.000 homens, sob o comando da Arthur Wellesley, futuro Duque de Wellington, começou a desembarcar na margem sul da foz do rio Mondego, na costa de Lavos. Quatro dias mais tarde juntou-se-lhe uma força de 4.500 homens vindos da Andaluzia, no seguimento da vitória obtida na batalha de Bailen travada em 20 de Julho.

Em 10 de Agosto esta força iniciou a sua marcha para sul e, em Leiria, foi reforçada com mais 2.000 portugueses comandados pelo coronel Trant, oficial inglês ao serviço do exército português. Em 14 de Agosto, Wellesley, comandando, assim, perto de 16.000 homens, estava em Alcobaça (sabendo já que os franceses que, sob o comando de Delaborde haviam sido enviados por Junot para observar e retardar os seus movimentos, se encontravam junto a Óbidos) e, no dia seguinte, chegou às Caldas da Rainha em cujos arredores tiveram lugar as primeiras escaramuças.

No dia 16, os exércitos encontraram-se e o general francês Delabord, inicialmente colocado na planície entre o Pó e a Roliça reposicionou as suas forças de cerca de 4.500 homens, recuando para uma forte posição sobre as colinas a sul da Columbeira, à qual apenas se podia aceder através de íngremes e estreitas ravinas e foi aí que a batalha, conhecida por batalha da Roliça, se veio a travar no dia 17.

Desta vez, o odiado Maneta que se encontrava em Tomar e recebera ordens de Junot para se juntar a Delabord não chegou a tempo e os franceses foram obrigados a retirar. Nesse dia, cerca de 1100 a 1200 homens foram feridos ou perderam a vida. Mais de 600 eram do exército francês e quase quinhentos eram ingleses (incluindo metade do efectivo do 29.º Regimento de Infantaria e o seu comandante, tenente-coronel Lake) e portugueses.

Esta foi a primeira vez que as forças britânicas envolvidas na Guerra peninsular percorreram a nossa região.

Terão estado na Ataíja? Quase de certeza que não. Os movimentos militares são fortemente condicionados pela geografia. Ora, vindo de Leiria para Alcobaça e sem inimigo à vista, o exército movimentou-se com à-vontade pela estrada que seguia pela Batalha e Aljubarrota, com o lado esquerdo do percurso naturalmente defendido pelo vale da Ribeira do Mogo, sobre o qual a cumeeira de Aljubarrota permite uma ampla visão e constitue uma posição dominante que dispensava a necessidade de lançamento de patrulhas para além dele.

O ressoar das botas da infantaria e o dos cascos dos cavalos, o tilintar das espadas e o ranger dos carros da artilharia e das bagagens, esses, hão-de,  ter-se feito ouvir até à base da serra dos Candeeiros.

Acresce que aquele dia 14 de Agosto de 1808 foi um Domingo e os ataíjenses hão deixaram de se deslocar a São Vicente para ouvir a missa. Talvez ainda tivessem visto alguns ingleses e, certamente, os de Aljubarrota e da Cumeira que também lá estavam os hão-de ter visto. Como terá sido o sermão? Talvez um acalorado louvor aos ingleses libertadores e um chorrilho de insultos aos franceses, pedreiros-livres e encarnação do anti-Cristo.

Certamente, hão-de ter sido muitos os comentários angustiados embora esperançosos. É que a região vinha a sofrer as consequências da ocupação francesa pelo menos desde o princípio do ano quando, a 9 de Fevereiro, nove portugueses foram arbitrariamente fuzilados nas Caldas da Rainha por ordem de Loison, o Maneta e, há pouco mais de um mês, em 5 de Julho, o General Kellerman tinha atacado Leiria.

Mas era, apenas, o começo. Nesse dia, os povos não podiam, ainda, adivinhar os tempos difíceis que se iriam seguir.

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