“O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria”, é um livro manuscrito, de autor desconhecido e de data incerta que contém uma importantíssima descrição do Bispado de Leiria no Séc. XVII. Não se sabendo o nome do seu autor, sabe-se, no entanto, pelo próprio livro, que era vivo entre 1605 e 1657 e se tratava de pessoa importante, uma vez que também declara ter sido árbitro de uma contenda que opôs os bispos D. Pedro Barbosa D’Eça, bispo de Leiria entre 1636 e 1640 e D. Diniz de Mello (D. Diniz de Mello e Castro), bispo de Leiria de 1627 a 1636 e, posteriormente, bispo de Viseu e bispo da Guarda, cargo em que faleceu em 1639.
O manuscrito manteve-se inédito por cerca de duzentos anos, até 1868, data em que, por iniciativa de “um eclesiástico do mesmo bispado de Leiria”, foi impresso na Tipografia Lusitana, em Braga. Foi reeditado nos anos oitenta do Séc. XX, “em cópia fiel da sua primeira edição” mas, infelizmente, sem qualquer referência de data, de responsabilidade pela reedição, ou da autoria das notas de rodapé e dos acrescentos relativos à vida da Diocese após a sua restauração em 1918.
No que interessa à Ataíja, tem o livro dois capítulos (pág.s 260-262). O Capítulo 41.º - Da freguesia de São Vicente de Aljubarrota e o Capítulo 42.º - Das ermidas desta paróquia.
Ficamos a saber que, como aliás é incontroverso por abundantemente documentado, a freguesia de São Vicente de Aljubarrota não pertencia ao Mosteiro de Alcobaça mas, antes, era anexa aos priorados de São Pedro e Nossa Senhora de Porto de Mós (isto a partir da extinção da Colegiada de Porto de Mós, ocorrida em meados do Séx. XV):
No dia (14 de Julho de 1587) em que o Bispo D. Pedro de Castilho, tomou posse da vila de Ourém, também tomou posse da de Porto de Mós e da ametade da vila de Aljubarrota que era a freguesia de São Vicente (O Couseiro, Capítulo 20º).
Lembrando que o autor escreve em meados os Séc. XVII, inventaria ele as seguintes igrejas capelas e ermidas então existentes na freguesia de São Vicente de Aljubarrota:
- Ermida de São Vicente o Velho (era a antiga igreja paroquial e da qual não há, actualmente, vestígios) que ficava defronte da de São João Baptista.
- São Vicente o Novo. A Igreja Paroquial actual. Curiosamente, esta Igreja, apesar de ser paroquial, por estar fora da vila, não tinha Sacrário que apenas havia Em Nossa Senhora dos Prazeres. É uma construção do Séx. XVI (segunda metade). Esta Igreja foi objecto em 1972 de uma intervenção que incluiu remodelações no interior e no pórtico e, a nosso ver, mutilou desnecessariamente a coerência arquitectónica do edifício.
- Ermida de São João Baptista, nos Olheiros. Era muito formosa e tinha uma confraria que se encarregava da respectiva fábrica, com mais de duzentos confrades, diz o autor. Esta capela foi, segundo consta do site monumentos.pt, construída em 1606.
- Ermida de Nossa Senhora das Areias, nos Chãos, com licença para nela se dizer missa emitida em 1542. Era de romagem, particularmente para febres e maleitas,
- Ermida de São Sebastião, na Ataíja de Baixo. Tinha alpendre de colunas, confraria e bodo e era fabricada pelos confrades.
- Ermida de Santa Teresa, “nos casais que estão para além da Ataíja de Cima”. À fábrica estavam obrigados os moradores, “porque estas ermidas foram feitas para a administração dos Sacramentos”. Era de romagem particularmente advogada para os ouvidos.
- Ermida de Nossa Senhora da Graça, na Ataíja de Cima, “a cuja fábrica estão obrigados os moradores do mesmo logar; a imagem da Senhora é de vulto, pintada, sem nicho, nem retábulo, nem sino”. Embora o autor de O Couseiro nada mais diga sobre este assunto, sabe-se que a construção da capela de Nossa Senhora da Graça é do Séc. XVI.
Glossário:
Colegiada – Corporação de sacerdotes com funções de cónegos em igreja independente da jurisdição do bispo da Diocese.
Fábrica – Receita ou rendas de uma igreja ou da sua administração.
Imagem de vulto – estátua.
Nicho – Cavidade aberta numa parede.
Priorado – Comunidade religiosa governada por um prior. (Prior é o pároco de certas freguesias, quando tem poder sobre outros padres. Etimologicamente, prior significa o primeiro, o que vai à frente, superior, o que é mais destacado).
Retábulo – Estrutura ornamental em pedra ou talha de madeira que se eleva atrás do altar ou pintura que adorna essa parede.
Excelente informação histórica que desperta não só interesse pela localidade referida como também pela obra que a refere. Dado que esta contem informação histórica preciosa para toda a região de Leiria, sugeria às entidades que a governam, que gerem o seu património e promovem a sua divulgação, que se juntem num esforço comparticipativo e editem a respectiva Obra e coloquem-na gratuitamente on-line. Verão que com esta iniciativa promoverão grandemente o conhecimento de toda esta região e seu estudo. E com isto o seu consequente engrandecimento.
ResponderEliminarJF
Muito obrigado pelo seu comentário
ResponderEliminarconto muito em breve colaborar na edição desta obra on-line na pagina da paroquia de aljubarrota. até lá
ResponderEliminarJá podem consultar o Couseiro-Aljubarrota em www.paroquiadealjubarrota.com - Nota Histórica.
Eliminaro prometido é devido.